Chega um
momento da vida em que precisamos nos posicionar e arcar com as consequências
de tal posicionamento. Já fiz isso algumas vezes e esta é só mais uma. Se já me
chamam de comunista, esquerdista, lulista, abortista e tantos outros nomes,
agora então, serei chamado de quê? Padre Júlio Lancelotti? Mário Sérgio
Cortella? Quanta honra! Portanto, venho trazer meu
posicionamento, mais que político, um posicionamento religioso e social. Não
precisava nem dizer, mas defendo Paulo Freire como patrono da nossa educação
sim, sou contra o armamento sim, assisto novelas sim, sou católico sim e
pasmem, não sou bandido, não sou pedófilo, não sou assassino, não sou ladrão e
nem corrupto, mesmo assim, sei que não sou nenhum grande exemplo de homem e de
cidadão.
O que vimos no
último dia 12 outubro, na Basílica Nacional de Aparecida, foi vexatório,
triste, desrespeitoso, vergonhoso, impactante e medíocre. Mas para chegar até esse
dia, muita coisa aconteceu, queiramos nós católicos, ou não.
Embora eu
nunca tenha ido às ruas protestar o “Fora Dilma” ou o “Ele não”, mais por entendimento
político que preguiça, incluo-me, mais por caridade que discernimento, à massa
de manobra que somos e, se não fôssemos, iríamos para às ruas de forma
independente e buscaríamos uma nova proposta, um novo caminho para romper toda
esta barreira do ódio instalada no brasil deste o fatídico golpe político da Dilma
em 2016. Acordemos, católicos! Não leiam isto!
Após o golpe
político, surge em 2018, como um coelho tirado da cartola ou um “anjo” vindo do
céu, Jair-FALSO-Messias Bolsonaro, no melhor estilo Campanha da
Fraternidade que todo bom católico conhece, com o tema “Pátria, família e
liberdade” e o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e, desde então,
tem sido um Deus nos acuda.
Há uma máxima
na comunicação que diz: “A história é contada por quem está no poder”! E agora
não é diferente, o Falso Messias precisa escrevê-la à sua maneira. Católicos,
não leiam isto, parem aqui, não sigam o raciocínio a seguir, podem ser fake News.
O Falso
Messias foi eleito pelas mídias sociais, então, seguiu fortemente por este
caminho, com páginas e perfis no Instagram, Telegram, Facebook e Youtube. Os
números de visualizações e inscritos são assustadoramente elevadíssimos. Mas,
estranho, não foi leito e não será. Quem nunca comprou seguidores, não é mesmo?
A sistemática é fácil demais, não tem fiscalização e gera muita informação,
verdadeira ou falsa, sem controle algum.
De um lado, o
código de direito canônico diz: “No entanto, a Igreja proíbe expressamente que
os seus clérigos (padres e diáconos) filiem-se a partidos políticos,
especialmente sem a devida licença do bispo diocesano ou da autoridade
competente: não tomem parte ativa em partidos políticos ou na direção de
associações sindicais, a não ser que, a juízo da autoridade eclesiástica
competente, o exija a defesa dos direitos da Igreja ou a promoção do bem comum”; e também proíbe que assumam cargos públicos: “os clérigos estão proibidos de
assumir cargos públicos que importem a participação no exercício do poder
civil”. Ou seja, católicos, o número de padres eleitos a cargos públicos tende
a zero, em contrapartida, o número de pastores eleitos em 2018 foi o maior da
história entre deputados e senadores.
Do outro lado,
o Falso Messias é rodeado por Silas Malafaia, Edir Macedo, Valdomiro Santiago,
RR Soares e, consequentemente, vários outros pastores das mais diversas
denominações. Ou seja, ele ajuda, conversa, interage e financia, como vimos em
várias reportagens e escândalos, a construção, o surgimento e a proliferação
das igrejas evangélicas. Nada contra, é só uma constatação.
Eis o começo
do pulo do gato: as igrejas evangélicas são, na sua essência, protestantes à
igreja católica e pregam o conservadorismo com toda a sua força, são
preconceituosas e homofóbicas por natureza. Pregando tal conservadorismo, Falso
Messias “abocanhou” grande parte dos cristãos conservadores católicos, que tem
o terço numa mão e uma pedra na outra, para tacá-las nos “pecadores” e ainda
não entenderam essa dinâmica.
Eis o meio do
pulo do gato: A Globo virou um lixo à medida que foi injetado dinheiro no SBT
(que ia falir), na Record (do Pastor Edir Macedo) e na Bandeirantes (que dá voz
a RR Soares). De todas estas, a Globo era a única que transmitia, às vezes,
alguma missa, porém, foi uma das primeiras atividades coisas a serem cortadas
na emissora dada a crise financeira instalada. Mas católicos, engraçado, em
toda novela tem um padre, um casamento, alguém ajoelhado ao pé da Santa pedindo
sua intercessão ao Pai, vide Dira Paes no papel de Filó, na novela Pantanal.
Isso ninguém conseguiu tirar da Globo, graças à Deus, porque as cenas são
sempre emocionantes. Este pode ser o próximo passo da censura que se aproxima,
caso não paremos, católicos.
Eis o término
do pulo do gato: Teoricamente forte nas mídias sociais e com a Globo
fragilizada, Falso Messias precisava atingir e contaminar a grande massa de
manobra da população, em geral, os mais idosos e a ala mais conservadora da
igreja católica. Para isso, tirou dinheiro da cultura e da educação, incentivou
e autorizou o funcionamento da Jovem Pan News que é propagandista maior das
vendas do canal de Streaming Brasil Paralelo. Não entrarei, por hora, na seara
da cultura e cortes na Lei Ruanet, por exemplo, porque a maioria dos leitores
não consomem, não prestigiam cultura nacional e nunca se beneficiaram das Leis
de Incentivo Fiscal. Desculpem católicos, idosos e jovens, agora estamos vendo
e ouvindo Jovem Pan 24 horas por dia, assistimos Brasil Paralelo, comentamos novelas
bíblicas da Record, pregamos o armamento, acreditamos piamente que, se Lula for
eleito, tornaremo-nos uma Venezuela, nossas igrejas serão fechadas e, se não
acordarmos, passaremos logo a frequentar cultos evangélicos em nome do conservadorismo
imposto e pela dúvida plantada em relação à nossa devoção à Nossa Senhora. Acordemos,
católicos! Não leiam isto!
Hoje, Silas Malafaia, Edir Macedo, Valdomiro Santiago e RR Soares nadam de braçada,
gargalham da nossa cara e nos veem chafurdar na lama da discórdia dentro da casa
da Mãe Aparecida. Ninguém me contou, eu vi o desfile de Sete de Setembro em São José dos Campos. Após o desfile das forças armadas, das escolas e dos programas
da prefeitura, desfilaram várias igrejas protestantes com vários blocos e suas
bandas encantadoras. Por que será, né? Acordemos, católicos! Não leiam isto!
Em nota desta
semana, a CNBB diz: “Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a
intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar
votos no segundo turno. Momentos especificamente religiosos não podem ser
usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais
assuntos relacionados às eleições. Desse modo, a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) lamenta e reprova tais ações e comportamentos. Ratificamos
que a CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer
candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral. Convocamos todos os
cidadãos e cidadãs, na liberdade de sua consciência e compromisso com o bem comum,
a fazerem deste momento oportunidade de reflexão e proposição de ações que
foquem na dignidade da pessoa humana e na busca por um país mais justo,
fraterno e solidário”.
E o que nós
católicos fazemos? Agredimos, verbalmente, arcebispos, bispos e presbíteros,
estapeamo-nos na casa da Mãe Aparecida em virtude da presença patética e
extremamente desnecessária do Falso Messias por lá, conforme mencionado no
início desta narrativa.
De tudo isso,
não estou falando para você votar no Lula. Votem no Falso Messias, votem nos
candidatos que o apoiam, votem em quem quiser, mas paremos com isso. Paremos de
postar idolatrias ao Falso Messias o dia inteiro, paremos de xingar, ofender e amemo-nos
mais. Mas votar no Lula seria tão ruim assim para nós, católicos, que anualmente
fazemos Campanhas da Fraternidade como a de 1997 que tinha como tema “A
fraternidade e os encarcerados” e lema “Cristo liberta de todas as prisões”? Acordemos,
católicos! Não leiam isto!
Acordemos,
católicos. Armamento e aborto são questões de segurança e saúde pública
respectivamente, não tem nada a ver com religião. O Brasil nunca será uma
Venezuela, o Brasil é enorme, é um país fortemente capitalista, riquíssimo em
agronegócio, petróleo, riquezas naturais e indústrias. Se queremos ter uma
religião católica forte e blindada, precisamos ser fortes, unidos e blindados,
deixando de lado toda esta convicção ilusória sobre política que achamos que
temos. Precisamos deixar de ser aquela antiga igreja católica da inquisição e
passar a ser a Igreja Católica Apostólica Romana, do terceiro milênio, que
caminha unida rumo ao Pai sob a intercessão de Nossa Senhora.
Se você,
católico ou não, conseguiu ler até aqui e é um preocupado de plantão coma a
minha imagem, é importante dizer que este texto é de minha autoria para o Pode
Cornettah, Blog de minha criação e responsabilidade. Este texto NÃO representa,
em hipótese alguma, a opinião de instituição industrial, acadêmica e pastoral
em que atuo, respectivamente, como engenheiro, diretor e escritor. Este texto é,
portanto, apenas meu manifesto como cidadão e como católico.
Respeitando
toda e qualquer crença, amando a Santa Igreja Católica, digo mais uma vez: ser
contra o Falso Messias não me faz a favor de Lula, faz-me tão somente ter a
certeza, das inimizades que surgiram e surgirão e dos laços que estreitarei a
partir daqui que, como dizia Antônio Abujamra, é preciso “idolatrar a dúvida”
ao invés de idolatrar o Falso Messias!
Lamento, em
conversas presenciais informais, que eu não tenha autocontrole, habilidade e
paciência de um professor, assim como faço através da escrita. Lamento também as minhas características fisiológicas de ruborização e tremores labiais ao me
ver provocado e encurralado, mas lamento, na mesma proporção ver amigos,
parentes e familiares caírem no encantamento do Falso Messias e não perceberem
a dinâmica da desconstrução do catolicismo em que estão nos colocando.
Em tempo, meus
agradecimentos ao músico Gilberto Wagner e ao escritor Francisco José Ramires pela
sugestão do tema.
Acordemos, católicos!
Espero que não tenham lido isto!
Grande Abraço,
Eduardo
Caetano