5/24/2021

Onde está meu coração

Assisti e recomendo a minissérie Onde está meu coração, que aborda, de forma muito inteligente, o tema das drogas, o vício pela bebida alcoólica e, principalmente, o vício pelo crack. A personagem Amanda, interpretada majestosamente por Letícia Colin, é rica, médica, tem tudo o que o dinheiro pode comprar e, ainda assim, é infeliz.  Para trazer veracidade a história era preciso que houvesse uma personagem que acreditasse na recuperação de Amanda contra a dependência química e só uma mãe (Sofia, interpretada por Mariana Lima) poderia ser capaz de carregar essa cruz na ficção. Por isso gosto e admiro produções do audiovisual brasileiro, porque retratam a vida real. A minissérie retrata o coração vazio de Amanda versus o coração cheio de amor incondicional de Sofia por ela. Tudo bem se você não quiser assistir. Aceito sugestões de outros meios que tragam produções audiovisuais tão boas ou melhor que esta, claro, desde que sejam produções nacionais. Não me veiam com chorumelas americanas, por favor.

Assim como na ficção, as mães são seres das causas impossíveis, são rosas sem espinhos no canteiro de Jesus e neste canteiro, quem quiser ganhar a vida, tem que levar a sua cruz. No jardim de Jesus, as mães são rosas semeadas que abrem mão de tudo na vida delas porque entendem o que é o amor, apesar dos sofrimentos, problemas familiares e desilusões. As mães são as rosas preferidas de Jesus, porque mesmo sofrendo, seguem amando e levando a sua cruz.  Nas muitas fases em que a vida é amarga, as mães aprendem que quem sabe amar, sabe sofrer e, no silêncio que tortura, aprendem a arte de viver. Os semblantes da mães refletem o esplendor, a luz brilhante da alegria, de expressar o Criador, Nosso Senhor. O perfume e o exemplo das mães fazem seus filhos sonharem e deixam o legado que mesmo sofrendo nesta vida, só é feliz quem sabe amar. As mães são seres das causas impossíveis, que à exemplo de Santa Rita de Cássia, abençoam nossas rosas, nossas vidas, para que nos momentos mais difíceis, sejam flores e vidas milagrosas, sendo remédio para as nossas dores e bálsamo para o coração. Dão-nos o seu amor e seu exemplo para que possamos caminhar e, abraçando a nossa cruz, também possamos nos salvar. As mães são as rosas preferidas de Jesus, porque mesmo sofrendo, seguem amando e levando a sua cruz. 

Sim, o parágrafo anterior é baseado no Hino à Santa Rita de Cássia. Se você é católico, percebeu isso. Se você não é, fica a dica. Durante a missa de sábado, dia de sua festa, participando da combinação perfeita de ritos que é a missa, fiquei pensando como eu poderia trazer esta música relacionada ao que eu estou vivendo, assistindo, passando. Tentarei fazer isso e já peço desculpas caso, você leitor, não compreenda meu raciocínio.

Quem carrega essa cruz de dor e sofrimento e crê sem limite na bondade e recuperação dos filhos e da família, é Sofia da minissérie que acredita na recuperação incondicional de Amanda, é Santa Rita de Cássia que perdeu o marido e os filhos e mesmo assim seguiu confiando em Deus, é minha mãe que já viveu o luto pela perda do meu pai, é minha sogra que lutou sozinha para criar seus quatro filhos e já venceu um câncer, é, sim, a sua mãe que também luta e sofre calada por alguma causa impossível que você nem faz ideia. Esta causa talvez seja um vício meu, um vício seu, um vício nosso. A causa talvez seja uma doença que ela sofre calada para não incomodar os filhos, talvez seja a solidão gerada pela pandemia. 

Quem me conhece sabe que eu gosto de tomar cerveja, embora não beba todo dia. Cerveja é uma droga legalizada. Não gosto de cachaça, nem whisky. Não fumo cigarro, nem maconha. Conheço gente que é viciada em cigarro, fuma quando toma cerveja, fuma quando toma café. Cigarro é legalizado, mesmo com toda a propaganda e dados desfavoráveis para a sua comercialização. Conheço gente que não bebe, não fuma mas é viciada em se intrometer, em dar palpite, em querer resolver o problema da vida dos outros. Conheço gente que é viciada em ajudar o próximo, em trabalho voluntário em querer o bem do outro. Conheço gente que é viciada em celular e jogos eletrônicos. Conheço gente que é viciada em aglomerar, que não mantem o distanciamento social, que não usa máscara. Conheço gente que é gente boa, boa praça, bom marido, bom trabalhador, que gosta de um bom baseado. Conheço gente viciada em limpeza, neurótica por água sanitária e detergente. Conheço gente viciada em trabalho. Conheço gente viciada em arma e conheço gente viciada por um "tiro" quando bebe. Conheço gente viciada na esperança da vacina e gente viciada em acreditar na cloroquina. Conheço gente que não bebe e não fuma, mas é viciada em academia. Conheço gente viciada em pedal e gente viciada em futebol. Todos temos vícios, virtudes, qualidades e defeitos.

Embora minha escrita seja simples e limitada, tenho nela quase o mesmo prazer que tenho pela cerveja. No meu devaneio literário quero misturar uma obra audiovisual, com religião, com política, com autoajuda. Escrevo sobre tudo ao mesmo tempo, talvez não fale nada e não te leve a fazer nenhuma reflexão. Mas se você captou uma única ideia deste devaneio, talvez estejamos nos embriagando da mesma fonte.

Conheço gente que tem fé. Conheço gente que acredita no bem. Conheço gente que acredita que rir é uma ato de resistência. Conheço gente que acredita neste país. Conheço gente do bem, que quer o bem e que faz o bem.

Estou onde está meu coração. Na minha casa, assistindo produções nacionais, reunido com minha família, tomando minha cerveja, escrevendo minhas bobagens, rezando pela Santa que sou devoto. Tenho minhas poucas qualidades e meus intermináveis defeitos. A exemplo das mães e de Santa Rita de Cássia sigo meu caminho, sendo uma cruz pesada para os outros, criando forças para carregar a minha própria cruz.

Se rir é um ato de resistência, escrever e rezar podem ser atos de sobrevivência? 

Diga-me, você, caro leitor: Onde está seu coração?!

Grande Abraço,

Eduardo Caetano



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