10/29/2021

Aventura Literária

Viver é uma aventura, logo, aventura boa é aquela que a gente vive. Já a aventura que a gente não vive, a gente pode nela entrar e os livros nos permitem esta entrada, esta imersão, por eles e com eles, vivemos as melhores aventuras... literárias!

Certo dia recebi uma ligação do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida (CFNSA), onde meus filhos estudam. Minha barriga gelou, comecei a pensar que houvesse ocorrido algo com as crianças, afinal, do outro lado da linha, a voz masculina era calma e educada demais na introdução do assunto. Era o professor Ronaldo, convidando-me para prestigiar a apresentação em sala de aula, do segundo ano do ensino médio, do projeto que eu, tempos atrás, havia sugerido à diretora, Irmã Mônica: a criação de uma estante pública com livros, doados por outrem, que seriam disponibilizados para livre leitura dos alunos, professores, mantenedores e pais do CFNSA. Na condição de membro da Academia Joseense de Letras (AJL), escritor e agente cultural, é de extrema importância, incentivar, fomentar, propiciar a leitura, fazendo com que o livro seja livre e de fácil acesso.

No dia agendado, 18 de outubro, Professor Ronaldo e Professora Adriana me recepcionaram calorosamente  na sala de aula. Eles sugeriram que me apresentasse para iniciarmos os trabalhos. Assim o fiz. Depois disso, os alunos mostraram as estantes móveis construídas e pintadas por eles próprios e demostraram como as mesmas ficariam expostas no colégio. Após esta interação vieram as perguntas, algumas bem capciosas, outras bem inteligentes e outras significativamente relevantes. Entre elas, destaco:

  1. Na prática, qual é o trabalho realizado pela AJL para a comunidade de forma geral?
  2. A internet contribui positiva ou negativamente para o desenvolvimento da leitura?
Entre uma pergunta e outra, o Professor Bruno entrou na sala, afinal, já estávamos ocupando o horário da sua aula. Professor Bruno não, Brunão. Aproveitando sua presença, conversamos sobre a literatura versus internet e sobre assuntos como filosofia e política tem feito mais parte do nosso universo. Brunão conhece minha família, meus pais, minha esposa, meu filhos, minha história, já participou do Pode Cornettah quando conversamos sobre os 300 anos da aparição de Nossa Senhora, já participei com ele do Altas Aulas no Colégio. E, interagindo com os alunos, falando um pouco de mim e sobre minha trajetória, ele mencionou os textos deste Blog. Falávamos sobre livros físicos, em contrapartida, eu tinha a oportunidade de mostrar meu trabalho digital. Tão logo, Brunão sugeriu que lêssemos ali, na hora, um dos meus textos. Então lemos "Meus país é uma peça". Se tivéssemos combinado não teria dado tão certo, o fim deste texto fala que  "Apesar de tudo, tudo mesmo, apesar de tudo o que há de mal e de errado neste país, eu continuo fazendo a minha parte, eu continuo acreditando na minha, na sua, na nossa força para mudarmos e melhorarmos alguma coisa, por menor que seja, porque o meu país é uma peça a ser apreciada, vivida, atuada, admirada, dirigida, roteirizada e assistida por todos nós!". Aquele contexto representava muito bem esta força de mudança. Ao fim da leitura, uma aluna pergunta:

    Qual é a sua metodologia de escrita, uma vez que meus textos são tão longos?

Foi um encontro muito gostoso, gratificante, edificante. Eu, professores e alunos: o sonho de qualquer escritor!

Na semana seguinte, 25 de outubro, foi o dia de apresentar o projeto a toda escola. Aventura Literária, foi o nome escolhido de forma democrática pelos alunos. Embora o evento tenha sido um evento bem singelo, com todo DNA franciscano, "deu recado" de forma clara e assertiva ao que foi proposto. O evento foi uma apresentação de alunos de diversas turmas, onde mostraram as histórias de Gibi, como a Turma da Mônica, de princesas, de cordel, do sítio do Pica Pau Amarelo, entre outros e no final, as alunas do segundo ano médio, mostraram e explicaram como irá funcionar o Projeto Aventura Literária, cuja a ideia central é: a pessoa pega um livro para leitura e, simultaneamente, deve deixar outro no lugar.

Ao término do evento, a professora Adriana foi chamada para falar um pouco sobre o projeto. Depois fui eu. Posso dizer que vivi para presenciar este momento. Falei sobre Felicidade, aquela situação era a representação da felicidade de um escritor, porque ali estavam, crianças, jovens, pais, professores, coordenadores, diretora e mantenedores, em volta dos livros, falando sobre livros, fomentando a leitura. Fiz a mesma brincadeira que fiz na sala de aula do segundo ano ao dizer que não sabia como a diretora, Irmã Mônica, é como chefe lá dentro da sala dos professores, o que eu sei, vejo e nos importa, é saber que a sua gestão propicia aos alunos, pais e, principalmente, professores, participem e deem cada vez mais o seu melhor em prol do bem comum que é a educação. Depois falei que escola é isso, tudo junto, mistura,  tradição, religião, família, já que meu pai trabalhou no colégio, eu e meus irmãos estudamos no colégio e meus filhos e sobrinhos estão estudando no colégio. Terminei dizendo o que escrevi numa publicação em fevereiro deste ano: "mais vale um livro na mão do que dois na prateleira" e fazendo jus a esta semente plantada, cumprindo o que falei tempos atrás, dei minha contribuição ao CFNSA, doando cerca de 20 livros.

Seu Odácio disse ao Fernando Anitelli, seu filho, certa vez: "Não é uma cara engravatado, atrás de uma mesa, que vai dizer se a sua música é boa ou não". Então ele entendeu que as músicas do O Teatro Mágico deveriam ser livres e as jogou todas na internet. Esse foi um dos melhores conselhos dito a alguém que eu peguei emprestado para mim. É nisso que eu acredito quando escrevo, aqui no Pode Cornettah, textos que se relacionam muito bem na minha mente embora muita gente não compreenda. Então se eu quero ser livre para escrever o que quiser, assim deve ser a qualquer outro escritor, porque escrevemos querendo que nossas obras sejam lidas e toque ao menos o coração de um leitor que seja. Se fizermos a diferença na vida de uma pessoa, a semente está plantada. Portanto este projeto, Aventura Literária, veio me trazer este presente, permitir que divulgue este blog e compartilhe outras tantas obras literárias através dos livros físicos de outros escritores.

Foto: Conversa com 2º Ano Ensino Médio (CFNSA) 
Fonte: Acervo CFNSA

Foto: Conversa com 2º Ano Ensino Médio (CFNSA)
Fonte: Acervo CFNSA

Foto: Apresentação Projeto Aventura Literária (CFNSA)
Fonte: Acervo do próprio autor


Aventure-se, com livros, sem moderação!

Grande Abraço,

Eduardo Caetano

5/24/2021

Onde está meu coração

Assisti e recomendo a minissérie Onde está meu coração, que aborda, de forma muito inteligente, o tema das drogas, o vício pela bebida alcoólica e, principalmente, o vício pelo crack. A personagem Amanda, interpretada majestosamente por Letícia Colin, é rica, médica, tem tudo o que o dinheiro pode comprar e, ainda assim, é infeliz.  Para trazer veracidade a história era preciso que houvesse uma personagem que acreditasse na recuperação de Amanda contra a dependência química e só uma mãe (Sofia, interpretada por Mariana Lima) poderia ser capaz de carregar essa cruz na ficção. Por isso gosto e admiro produções do audiovisual brasileiro, porque retratam a vida real. A minissérie retrata o coração vazio de Amanda versus o coração cheio de amor incondicional de Sofia por ela. Tudo bem se você não quiser assistir. Aceito sugestões de outros meios que tragam produções audiovisuais tão boas ou melhor que esta, claro, desde que sejam produções nacionais. Não me veiam com chorumelas americanas, por favor.

Assim como na ficção, as mães são seres das causas impossíveis, são rosas sem espinhos no canteiro de Jesus e neste canteiro, quem quiser ganhar a vida, tem que levar a sua cruz. No jardim de Jesus, as mães são rosas semeadas que abrem mão de tudo na vida delas porque entendem o que é o amor, apesar dos sofrimentos, problemas familiares e desilusões. As mães são as rosas preferidas de Jesus, porque mesmo sofrendo, seguem amando e levando a sua cruz.  Nas muitas fases em que a vida é amarga, as mães aprendem que quem sabe amar, sabe sofrer e, no silêncio que tortura, aprendem a arte de viver. Os semblantes da mães refletem o esplendor, a luz brilhante da alegria, de expressar o Criador, Nosso Senhor. O perfume e o exemplo das mães fazem seus filhos sonharem e deixam o legado que mesmo sofrendo nesta vida, só é feliz quem sabe amar. As mães são seres das causas impossíveis, que à exemplo de Santa Rita de Cássia, abençoam nossas rosas, nossas vidas, para que nos momentos mais difíceis, sejam flores e vidas milagrosas, sendo remédio para as nossas dores e bálsamo para o coração. Dão-nos o seu amor e seu exemplo para que possamos caminhar e, abraçando a nossa cruz, também possamos nos salvar. As mães são as rosas preferidas de Jesus, porque mesmo sofrendo, seguem amando e levando a sua cruz. 

Sim, o parágrafo anterior é baseado no Hino à Santa Rita de Cássia. Se você é católico, percebeu isso. Se você não é, fica a dica. Durante a missa de sábado, dia de sua festa, participando da combinação perfeita de ritos que é a missa, fiquei pensando como eu poderia trazer esta música relacionada ao que eu estou vivendo, assistindo, passando. Tentarei fazer isso e já peço desculpas caso, você leitor, não compreenda meu raciocínio.

Quem carrega essa cruz de dor e sofrimento e crê sem limite na bondade e recuperação dos filhos e da família, é Sofia da minissérie que acredita na recuperação incondicional de Amanda, é Santa Rita de Cássia que perdeu o marido e os filhos e mesmo assim seguiu confiando em Deus, é minha mãe que já viveu o luto pela perda do meu pai, é minha sogra que lutou sozinha para criar seus quatro filhos e já venceu um câncer, é, sim, a sua mãe que também luta e sofre calada por alguma causa impossível que você nem faz ideia. Esta causa talvez seja um vício meu, um vício seu, um vício nosso. A causa talvez seja uma doença que ela sofre calada para não incomodar os filhos, talvez seja a solidão gerada pela pandemia. 

Quem me conhece sabe que eu gosto de tomar cerveja, embora não beba todo dia. Cerveja é uma droga legalizada. Não gosto de cachaça, nem whisky. Não fumo cigarro, nem maconha. Conheço gente que é viciada em cigarro, fuma quando toma cerveja, fuma quando toma café. Cigarro é legalizado, mesmo com toda a propaganda e dados desfavoráveis para a sua comercialização. Conheço gente que não bebe, não fuma mas é viciada em se intrometer, em dar palpite, em querer resolver o problema da vida dos outros. Conheço gente que é viciada em ajudar o próximo, em trabalho voluntário em querer o bem do outro. Conheço gente que é viciada em celular e jogos eletrônicos. Conheço gente que é viciada em aglomerar, que não mantem o distanciamento social, que não usa máscara. Conheço gente que é gente boa, boa praça, bom marido, bom trabalhador, que gosta de um bom baseado. Conheço gente viciada em limpeza, neurótica por água sanitária e detergente. Conheço gente viciada em trabalho. Conheço gente viciada em arma e conheço gente viciada por um "tiro" quando bebe. Conheço gente viciada na esperança da vacina e gente viciada em acreditar na cloroquina. Conheço gente que não bebe e não fuma, mas é viciada em academia. Conheço gente viciada em pedal e gente viciada em futebol. Todos temos vícios, virtudes, qualidades e defeitos.

Embora minha escrita seja simples e limitada, tenho nela quase o mesmo prazer que tenho pela cerveja. No meu devaneio literário quero misturar uma obra audiovisual, com religião, com política, com autoajuda. Escrevo sobre tudo ao mesmo tempo, talvez não fale nada e não te leve a fazer nenhuma reflexão. Mas se você captou uma única ideia deste devaneio, talvez estejamos nos embriagando da mesma fonte.

Conheço gente que tem fé. Conheço gente que acredita no bem. Conheço gente que acredita que rir é uma ato de resistência. Conheço gente que acredita neste país. Conheço gente do bem, que quer o bem e que faz o bem.

Estou onde está meu coração. Na minha casa, assistindo produções nacionais, reunido com minha família, tomando minha cerveja, escrevendo minhas bobagens, rezando pela Santa que sou devoto. Tenho minhas poucas qualidades e meus intermináveis defeitos. A exemplo das mães e de Santa Rita de Cássia sigo meu caminho, sendo uma cruz pesada para os outros, criando forças para carregar a minha própria cruz.

Se rir é um ato de resistência, escrever e rezar podem ser atos de sobrevivência? 

Diga-me, você, caro leitor: Onde está seu coração?!

Grande Abraço,

Eduardo Caetano



5/12/2021

Meu país é uma peça

Um país onde o STF anula as condenações de um sujeito que foi acusado e preso em terceira instância não pode ser levado à sério, é como se a FIFA anulasse o 7x1 da Alemanha sobre o Brasil, fato que é aceito por nós e pela CBF. No momento crítico de falta de vacinas e outras soluções sanitárias para nos salvar da pandemia, nossos políticos estão fazendo uma CPI para averiguar o que não foi feito até agora ao invés de se unirem para resolver o maior problema de vigilância sanitária que já enfrentamos na história. Meus país é uma peça!

Num dia comum um adolescente entra numa creche, mata três bebês e duas professoras e a saudade de Saudades é agora a nossa maior saudade. No outro dia, bandidos são mortos pela polícia no morro do Jacarezinho, ação que uns chamam de chacina, outros de justiça, mas fato é que a polícia nunca puxa o gatilho sozinha. Numa noite comum, um vereador mata seu enteado e tenta se livrar de todas as formas do flagrante. Meus país é uma peça!

Nós vamos nos acostumando com as perdas precoces no meu país, hoje são mais de 420 mil vidas ceifadas pelo corona vírus. Meus país é uma peça!

Um país que, por mais que muitos queiram e pregam que a nossa cultura é fraca ou que não precisamos de arte ou que tudo venha da Globo é uma porcaria, rendeu-se nessa última semana à morte lastimável do ator Paulo Gustavo. Mais uma vez quis o destino que fôssemos abatido pela tristeza da morte de um ídolo nacional. Quando um ídolo, da magnitude de Paulo Gustavo morre, morre também um pouco dos nossos sonhos, nossa esperança, nossa luta, nossa alegria, nossa cultura. Meu país é uma peça!

Quando penso na partida precoce de Paulo Gustavo, imediatamente me vem a mente outras histórias tristes. A vida de Ayrton Senna já virou documentário, inúmeras reportagens e agora será uma minissérie na Netflix. A curta trajetória dos Mamonas Assassinas foi muito bem contada por inúmeros artistas e a promissora carreira, interrompida de forma trágica, do jogador Dener ganhou as primeiras páginas dos jornais de todo do país. Cada um deles é importante no seu tempo, não há como compará-los entre si. Meu país é uma peça!

Queira você ou não, goste você ou não de filme nacional, Minha mãe é uma peça mostrou o que o brasileiro é capaz de fazer com relação à arte, com relação a arte do audiovisual. E do ponto de vista bibliográfico, Paulo Gustavo conseguiu contar a sua trajetória com maestria, leveza e muita comédia. Meu país é uma peça!

Gênios são poucos, reis são únicos, mitos... não, mito definitivamente não é quem você acha que é. Há de se considerar o fator unanimidade nesta classificação. Meu país é uma peça! 

Paulo Gustavo morreu no dia da final do BBB21, o chamado Big dos Bigs. Era uma dia de festa na casa mais vigiada do Brasil, era dia de festa na casa dele: A Rede Globo. A novela foi interrompida para que a notícia do seu falecimento fosse dada. Sim, para eu saber disso eu assisto novela e BBB e não, não me interessa muito a sua opinião sobre minha preferência televisiva e tudo bem se você quiser parar a leitura por aqui, afinal, meu país é uma peça, não eu!

Como dizia a música de encerramento da festa da final do BBB: pra quem tem pensamento forte o impossível é só questão de opinião e disso os loucos sabem, só os loucos sabem. E fazer o impossível para esses gênios, para esses reis, é a a coisa mais sensata e corriqueira. Eles são, muitas vezes, chamados de loucos, e o significado real disso só eles sabem. Meu país é uma peça!

Numa corrida, numa música, numa jogada, num filme, tudo é mistério nesse teu voar, gênios e reis misteriosos, seu pouco tempo nos mostrou que muitas histórias vocês tem para contar, nos guardem moleques de eterno brincar porque vocês não foram poupados do vexame de morrerem tão moços, muitas coisas vocês ainda tinham parar olhar (Pavão misterioso - Ednardo). Meu país é uma peça!

Meus país está calado, teatros e cinemas vazios, necrotérios e cemitérios lotados. Escolas estão vazias, tratores são superfaturados. Meu país vive um caos político, estamos entre o louco da cloroquina e o cara que foi preso. Meu país é uma peça!

Não lidamos muito bem com fato dos nossos ídolos não estarem sempre no auge da carreira no meu país. Precisamos aprender que ninguém está sempre no auge da vida profissional. Por exemplo, ninguém cria mais de uma empresa aeronáutica na vida, ninguém joga o mesmo nível de futebol quando se tem 20 anos de idade, ninguém é campeão de fórmula 1 a vida inteira. Tudo na vida tem um ciclo, tudo na vida acaba. Muitas vezes o fim trágico de uma vida poderia ser evitado no meu país, se não fosse a negligência, a ambição e a falta de  cuidado para com o próximo. Meu país é uma peça!

No meu país, onde falta vacina, cultura e educação, rir se tornou verdadeiramente ato de resistência. Temos que rir para não chorar, literalmente. Mas ainda assim, viver é melhor que sonhar, porque no fundo o brasileiro sabe que o amor é uma coisa boa, mesmo sabendo que há perigo na esquina, que o covid está vencendo e que o sinal está fechado para voltarmos às ruas, precisamos nos encantar e acreditar na invenção da vacina pra cicatrizar nossas feridas e podermos nos sentir mais fortes e saudáveis novamente. Meu país é uma peça!

Apesar de tudo, tudo mesmo, apesar de tudo o que há de mal e de errado neste país, eu continuo fazendo a minha parte, eu continuo acreditando na minha, na sua, na nossa força para mudarmos e melhorarmos alguma coisa, por menor que seja, porque o meu país é uma peça a ser apreciada, vivida, atuada, admirada, dirigida, roteirizada e assistida por todos nós!

Grande abraço,

Eduardo Caetano


4/07/2021

Falemos da morte

Em abril de de 2019 eu escrevi um artigo sobre a morte. É hora de revisitá-lo, usar uns trechos, editar outros. É tempo de pensar na morte, é tempo, há tempo de falar sobre a morte. Antes, porém, o que é a vida? A doutrina católica nos ensina que a morte é a passagem para vida eterna. Será verdade? Não conheço ninguém que tenha voltado para contar se é, de fato, verdade (contêm ironia).

Antônio Abujamra perguntava, provocativamente, aos seus entrevistados: como você quer morrer, com aquele negócio assim, no nariz? Dizia também: nós temos que idolatrar a dúvida. E deixava filósofos, doutores, políticos e estudiosos embaraçados quando não conseguiam responder: O que é a vida?

E eu vos pergunto: Como quereis morrer? 
Certeza? 
Só uma: Sim, iremos morrer. 
Dúvida? Dúvidas... várias! 
Como... Quando... Onde... Por que...

O Cantor e compositor Fernando Anitelli diz que: os opostos se distraem e os dispostos se atraem. Ele está certo. As pessoas dispostas se atraem para fazer uma festa, para fazer um show, para fazer um avião, para fazer um sarau. Os dispostos se atraem para matar, meus amigos, até para matar, neste momento pandêmico, os dispostos se atraem para se aglomerar. E disso, ninguém tem culpa, nem o coitado do presidente, no qual eu não votei. Ou tem? 

Mas morte é sempre morte. E sabe o que é o pior? É que eu estou sujeito a isso também. Eu, tu, ele, nós, vós, eles, todos estamos sujeitos a morrer, a qualquer momento, por um acidente de trânsito, por uma parada cardíaca, por uma bala perdida, ou até por um desentendimento na fila do supermercado. 

O fato: viver é duelar com a morte. E ponto.

Já faz alguns anos que Marcos Vitor nos deixou. Lembro que ele morreu num domingo. Um cara, tão inteligente como ele, resolveu secar o porão da sua casa acendendo algumas lenhas. Faltou oxigênio. Eu o conhecia, trabalhamos juntos. Ele era muito safro, dedicado, referência técnica, já havia sido supervisor do time de projeto de sistemas elétricos. Era um cara prestativo, apaixonado pela família e nato tirador de sarro. Seu velório estava repleto de colegas de trabalho, amigos, familiares e todos como a mesma dúvida: Por que ele foi duelar daquela maneira com a morte?

Também trabalhei com a Fernanda Cunha, filha do Robertão, no time de projeto de interiores do Legacy 600. Ao que parece, ela morreu por negligência médica, por uma consequência de falhas. Foi uma morte totalmente fora de hora, fora de contexto, deixou dois filhos, um deles recém-nascido. Seu velório ocorreu num sábado de carnaval. Quando uma mãe morre jovem e deixa filhos pequenos é um acontecimento que nos leva a repensar toda nossa existência.

Alírio foi meu colega de faculdade. Ele e a esposa, Tati, morreram após um caminhão, que foi atingido por outro caminhão, atravessar a pista e colidir, frontalmente, o veículo em que estavam na pista contrária na rodovia Ayrton Senna. Morreram na hora. Deixaram um casal de filhos. Não houve, sequer, tempo ou tentativas para despedidas. Isso foi há poucas semanas, então nem tiveram um velório com a presença dos amigos e colegas.

Seu Galdino era um daqueles homens que parecem eternos. O conhecia de longa data. Esposo da Dona Sônia, pai do César, Celso, Carlinhos, Cleonice, Soneca e outros filhos. Morreu aos 80 anos. Passou mal ao levantar da cama, bateu a cabeça, deu entrada no hospital mas saiu de lá um dia depois e sem vida. Já havia tomado a vacina contra o novo coronavírus. Venceu o vírus, mas não venceu a queda.

Meu primo, Luiz Henrique, morreu há dois anos, vítima de acidente de trânsito após o capotamento do carro onde estava, na Serra da Mantiqueira. Morreu na hora. Uma tragédia. Uma vida interrompida abruptamente. Simplesmente, acabou. Sonhos, interrompidos. Luto de pai e mãe talvez seja um dos momentos mais árduos na vida de um ser humano.

Caso vençamos as hipóteses de morte por acidentes e catástrofes, ainda nos resta morrer por um vírus: Coronavírus. Antes de duelar com a morte, temos que duelar com este vírus e esta nossa batalha já está beirando a insanidade.

Trabalhei com Daniel Sousa, também no programa Legacy 600. Ele era um cara adorado por todos, estava sempre disposto a ajudar o próximo. Era meu vizinho de rua, sempre que nos encontrávamos, recordávamos histórias da Embraer. Daniel era pastor, pai, esposo, avô e pequeno empresário. Daniel não resistiu ao duelo com o coronavírus e faleceu no início da pandemia, ano passado.

Semana passada, no fim de um dia comum de trabalho, recebemos a notícia que o nosso colega, Douglas Ribeiro, havia falecido devido as complicações do covid-19. Não pudemos nem ir ao velório por conta de toda esta situação. Douglas Ribeiro, vulgo Douglão. Eu o conhecia, trabalhamos juntos no segundo turno do suporte a produção dos jatos comerciais do E195E2. Morreu um CPF, uma CHAPA da empresa, um pai de dois garotos, um marido, um amigo, um colega de trabalho, um projetista aeronáutico de sistemas elétricos. Eu o conhecia e chorei ao saber que morreu por covid-19. Douglão tinha 42 anos de idade e 19 deles dedicados à Embraer. 

Das muitas perguntas sem respostas, eis algumas delas:
Por que a morte escolheu Douglão para morrer por covid-19?
Por que a morte escolheu Daniel para morrer por covid-19?
Por que a morte escolheu, só hoje, mais de 4.200 (quatro mil e duzentas) pessoas para morrer por covid-19?

A Semana Santa passou e um dos meus devaneios foi pensar que Jesus nos deixou um grande ensinamento: morrer jovem pode significar, sim, viver intensamente. Viver trinta e poucos, quarenta, anos pode significar tempo mais que suficiente para realizar grandes obras, pode significar ser tempo suficiente para ser marcante, importante e significativo na vida das pessoas. Talvez seja um bom parâmetro de qualidade de vida e não de quantidade de vida. E o nosso choro pode ser o choro de Verônica, afinal, não há dor maior que a nossa dor diante dos nossos mortos e Maria, aos pés da cruz, pode ser as mães dos nossos falecidos. Por que, não?

Mas isso tudo, todas essas mortes, deve servir para alguma coisa. Isso tudo tem que ter um porquê. Não é possível que tenhamos que conviver com este medo de viver... ou é? Até quando? O confinamento é tão grande que não podemos nem ficar na praça dando milho aos pombos.

Tentemos ser uma semente do bem neste caos que estamos vivendo. Que a poesia, a literatura, a música, a cultura e a educação prevaleçam e sejam nossas armas de combate nesta guerra social. Então, eis a minha humilde sugestão: Armemo-nos com livros (e blogs bons, não este) para que livremo-nos do mal. Enquanto há vida, há esperança. Enquanto há livros (e blogs bons, não este), há sonhos.

Grande abraço,

Eduardo Caetano

3/10/2021

Eu fico besta quando me entendem (Hilda Hilst)

Na Assembleia Geral Ordinária (AGO), de agosto de 2019, da Academia Joseense de Letras (AJL), tivemos o privilégio de contar com a ilustre presença de Dona Ângela Savastano, isso, ela mesma, o mito, a lenda viva do folclore da cidade de São José dos Campos e região. Dentre tantos ensinamentos daquela noite, o que mais chamou minha atenção foi quando ela explicou o chamado Gráfico da Cultura Erudita (eixo vertical) versus Cultura Popular (eixo horizontal), onde a cultura erudita é tudo aquilo que aprendemos na academia, nas escolas, onde nos encontramos iguais aos demais e aprendemos coisas juntamente com outras pessoas através da instrução de alguém e a cultura popular representa aquilo que aprendemos, de forma ímpar e singular, através dos costumes e tradições no meio em que vivemos e convivemos. Neste contexto, Savastano foi muito assertiva em dizer que “a igualdade une as pessoas e a diferença enriquece as pessoas” e, deste modo, “conseguimos considerar melhor as outras pessoas não pela sua aparência mas pelo o que elas trazem de conhecimento consigo”.

Assim sendo, a cultura erudita deu-me condições de estar, hoje, membro efetivo da AJL, onde ocupo a cadeira número oito cuja patrona é a escritora Hilda Hilst, local onde vou aperfeiçoando os saberes da minha cultura popular, uma vez que a AJL é composta por escritores, poetas, empresários, editores, advogados, atores, doutores, desembargadores, músicos, engenheiros, profissionais do audiovisual e até cineastas. E um dos principais motivos de eu compor esta seleta equipe é o fato deles acreditarem que eu possa contribuir com o grupo e, principalmente, com a sociedade através das histórias mostradas pelo canal Pode Cornettah (PC), sejam pelos textos escritos no blog, pelos vídeos postados no canal do youtube ou seja pelos áudios do podcast.

A ideia de criar o PC nasceu na mesa da cozinha da casa da minha mãe, Bernadete, onde estávamos eu, meu irmão Camilo, nosso amigo Leandro e um velho amigo da família, o "tio" Antônio Corneta. Resolvemos que seriam gerados materiais no formato podcast onde falaríamos assuntos voltados tão somente ao catolicismo. Após este encontro, ali na cozinha, eu fiquei pensando no nome do nosso podcast e o sobrenome, Corneta, não saía da minha mente. Cismei que teria que ser algo vinculado ao fato de podermos cornetar, à vontade, sobre o que considerávamos coisas boas, afinal, o filtro e a censura estavam em nossas mãos. Aí a imaginação tomou conta: Podcast do Corneta... CornetaCast... CornetaPod... PodCorneta... PodCornettá. Isso, era isso! Pod de Podcast somado ao Cornettá. Para dar ênfase ao verbo, tinha que transformá-lo em interjeição, por isso batizei com dois tês e acento circunflexo na vogal A. Confesso que, visualmente, não estava me caindo bem o PodCornettá com D mudo, afinal, a pronúncia ficava algo assim: Pôude. Foi aí que, com a dica do amigo João Pedro, rebatizamos para, o que é hoje, Pode Cornettah, onde a pronúncia do verbo poder é como se tivéssemos um acento circunflexo na letra O, Póde, e o verbo conetar tomou o função de interjeição pela presença da letra H.

Camilo chegou a fazer dois pilotos solos de podcasts, um falando sobre os sacramento e o outro falando sobre a importância da confissão. Não chegamos a publicá-los talvez pelo alto nível teológico ou algum outro motivo que não me lembro agora. Com o tempo passando, minhas ideias fervilhando, o crescimento da minha ânsia pela fomentação e divulgação da nossa cultura e os constantes desencontros deste nosso grupo inicial, resolvi dar o ponta pé nesta trajetória em dezembro de 2015. Daí em diante muita coisa boa vem sendo publicada e muita história boa vem sendo contada. Não buscamos seguidores e nem curtidores de perfis em redes sociais, buscamos pessoas sedentas por conhecimento pela nossa cultura. Num processo natural, partimos dos textos, passamos para vídeos e chegamos aos podcasts. Cada encontro, cada texto, cada história é um aprendizado diferente e, todas sem exceção, tem um ponto em comum: acreditam na força, na diversidade e na capacidade cultural deste nosso querido Brasil.


A oportunidade de escrever sobre o PC neste momento me lembra a palavra gratidão. Gratidão as pessoas que contribuíram com relatos, entrevistas, histórias, fotografias, vinheta, críticas, sugestões, empréstimo de lugares físicos, parcerias e patrocínios. Tudo isso, junto e misturado, leva-me muitas vezes a uma dúvida cruel: Pode ou não pode? E eu vos digo: Claro que Pode! Mas, pode ou não pode, o quê? Cornetar ou Cornettah? A resposta é que, através da cultura, podemos tudo: aceitamos o Verbo e a Interjeição! E qual a diferença entre eles? Cornetar é a representação da ação através do verbo no infinitivo, ou seja, a forma correta de escrever e Cornettah é a representação da ação através da interjeição, ou seja, é a forma coloquial de como pronunciamos o verbo cornetar.

Então para que eu possa Cornettah à vontade sobre coisas boas e crie conteúdo em diversas plataformas, é necessário que existam pessoas dispostas a recebê-los. Isto é comunicação, tem-se um emissor e um receptor, deve haver disposição de ambas as partes, o que me remete ao que diz o cantor, compositor, poeta e militante Fenando Anitelli: os dispostos se atraem e os opostos se distraem.

Por mais que tenhamos dúvidas, questionamentos e incertezas, meus caros leitores, sigamos em frente, pois como já dizia Antônio Abujamra, no programa Provocações da TV Cultura, "é preciso idolatrar a dúvida". Ele também perguntava, provocativamente, aos seus entrevistados: "como você quer morrer, com aquele negócio assim, no nariz"? E, desta maneira, era capaz de deixar filósofos, doutores e estudiosos embaraçados quando não conseguiam responder: "O que é a vida"?

E o que é a vida? Hilda Hilst tenta nos responder pela sua trajetória literária. Passou anos escrevendo crônicas, dramaturgias e romances, mas só foi notada como uma grande escritora quando começou a escrever contos eróticos, quando ela começou a escrever sobre o que todos são capazes de sentir, mas ninguém tem coragem de falar e muito menos de escrever. Ela tornou-se uma das maiores escritoras do século XX da Língua Portuguesa por sua forma de escrita questionadora, provocativa e polêmica. Nesta busca incessante por querer ser ouvido, assemelho-me a ela, porque através do Pode Cornettah vou mostrando meu lugar de fala, fazendo com que as pessoas ouçam coisas que eu jamais seria capaz de escrever ou produzir se eu considerasse minha vida corporativa suficiente como forma de expressão.

Uns dizem que somos a média das cinco pessoas com que mais convivemos, outros dizem que somos aquilo que comemos e outros, ainda, dizem que somos aquilo que lemos, arrisco-me a dizer que somos isso tudo e mais um pouco, somos tudo numa coisa só, somos tudo junto e misturado. Portanto, sintamo-nos afetados um pelo afeto do outro, uma pela dúvida do outro, um pela provocação do outro, um pela vida do outro para que, ao fim de tudo, um possa dizer ao outro: “Eu fico besta quando me entendem”.

2/28/2021

Mais vale um livro na mão do que dois na prateleira

Dia desses pediram minha opinião sobre a moça que aparece na foto abaixo. Opinei despretensiosamente: Jogada pronta, onde há dinheiro, poder e fama, em nome de Deus, alguém tem que pagar. O marido, deputado e empresário, pagou. Quando a esmola é demais, o Santo desconfia. Aí outro dia pediram minha humilde opinião sobre a prisão do rapaz de máscara. Nossa, o que eu, um insignificante blogueirinho joseense poderia dizer, ou escrever, à respeito de um machão que já foi preso mais de 90 vezes? Nada!

Talvez, alguns leitores, tenham clicado no link enviado como sugestão de leitura da semana por causa da foto, desculpe desapontá-los pois, por hora, não irei desperdiçar meu insignificante (de novo) devaneio literário com tais assuntos, há muita coisa boa para ser cornetada, tá ok? Mas espere um pouco, no tocante ao novo decreto de armamentos, assinado pelo rapaz da foto com a arma em punho, devemos e podemos cornettah, até mesmo porque "o país está sendo governado por gorilas, sem querer ofender os gorilas, claro"... Já dizia Elis Regina. Quem me conhece, sabe, sou contra o uso de armas mas, quem também me conhece, sabe que eu torço para que decisões como essa deem certo e que nós, sociedade, somente saberemos o resultado, positivo ou negativo, vivenciando a situação. Enquanto a vivenciamos, o que que eu, como cidadão comum, posso fazer na minha insignificante (de novo) participação social? Uai, se a conversa é sobre armas, usarei as minhas. 

Até muito pouco tempo, minhas armas ocupavam algumas prateleiras e fundos de gavetas aqui em casa. Dado o cenário atual, resolvi colocar todas numa mala grande que, por sua vez, está no porta malas do meu carro. Ao todo são 51 armas... Boa ideia! Minhas armas precisam ser usadas, preciso atingir pessoas, na cabeça e no coração. Arma "parada", emperra, enferruja, não acerta nada e nem ninguém.

Apresento-vos minhas cinquenta e uma armas: São os meus cinquenta e um livros! Livrai-nos do mal, armemo-nos de livros! Tudo bem, vou compreender se você não quiser ler mais a partir daqui. Mas, se você ficar, será cúmplice do nascimento do Clube Literário do Pode Cornettah, por isso a mala com os livros está no carro, para facilitar as entregas e as devoluções! Exatamente isto mesmo que você leu: Clube Literário do Pode Cornettah! Sim, estou compartilhando meus livros, NÃO estou doando, quero que haja uma troca de experiência literária entre nós. O empréstimo funciona como numa biblioteca convencional: preenche uma ficha, assina a ficha, retira o livro, devolve após sete dias e assina a ficha novamente. O prazo para empréstimo pode ser revogado mediante nova assinatura da ficha. Caso não entregue na data combinada, será cobrado uma multa a ser estipulada. Podemos conversar, caso haja interesse na compra de algum livro. Para retirar o livro, envie uma mensagem no privado. Sim, é verdade este bilhete. Refleti muito sobre o acúmulo de livros e cheguei a conclusão de que Mais vale um livro na mão do que dois na prateleira.

Um livro na prateleira junta pó, junta memória afetiva. Um livro na mão junta sonhos, junta oportunidades, junta possibilidades. Claro, cada um é livre para fazer, para ler o que quiser e, no Clube Literário do Pode Cornettah, você terá, por enquanto, cinquenta e uma oportunidades de leitura. Tudo bem, sei que não são tantos livros assim, mas o importante é colocar em prática o seguinte pensamento: quem divide, multiplica

Eis, portanto, minha coleção de ARMAS, digo, LIVROS em ordem alfabética de seus respectivos títulos:

  1. 9 Meses Com Maria - Luís Erlin
  2. A Cabana - William P. Young
  3. A Fantástica História de Silvio Santos - Arlindo Silva
  4. A princesa da Lapa - Danilo Barbosa
  5. Adega de Sangue - Danilo Morales
  6. Além do Vale do Terror e da Imaginação - Thunder Dellú
  7. Aprenda Português - José Nelson de Souza
  8. Aquenda - Luna Vitrolira
  9. As Esganadas - Jô Soares
  10. Assassinatos na academia brasileira de letras - Jô Soares
  11. Até que a vida nos separe - Mônica de Castro
  12. Competência no Amar - Padre Rinaldo Roberto de Rezende
  13. Conversas Decisivas - Kerry/Joseph/Ron/Al
  14. Danem-se os normais  - João Estrella de Bettencourt
  15. Desmergulho - Daniella Peneluppi
  16. Do tempo à eternidade - Irmã Maria Domitila de Jesus Hóstia
  17. En-Théos - Padre Rinaldo Roberto de Rezende
  18. Estilo Sustentável - Mara Débora
  19. Golpe de Estado - Rodrigo Cabrera
  20. Juro que tentei - Fabrício Cunha
  21. Meu lar virou uma empresa - Lúcia Runha
  22. Mulheres de Aços e de Flores - Padre Fábio de Melo
  23. Nunca Desista dos seu sonhos - Augusto Cury
  24. Nuvem de Estrelas - Bruna Cleto
  25. O Alquimista - Paulo coelho
  26. Ô de Dentro - Tenório Cavalcanti
  27. O Homem da Capadócia - Wilson R
  28. O homem que matou Getúli Vargas - Jô Soares
  29. O Lobo da Estepe - Hermann Hesse
  30. O Pastor das ruas - Vicente Blood
  31. O Peso do Pássaro Morto - Aline Bei
  32. O Rei das Fraudes - John Grisham
  33. Olhar de Cão - Francisco José Ramires
  34. Os últimos passos de Jesus - Bill O'Reilly
  35. Para que serve a poesia - Clarice Sabino
  36. Para seus olhos de vidro - Andrea de Barros
  37. Passa Quatro em Cantos - Paulo José de Almeida Brito
  38. Paternidade, Maternidade e Responsabilidade - François Dumesnil
  39. Pinceladas do Tempo - Débora Siqueira
  40. Poemas Microfísicos - José Moraes Barbosa
  41. Revista Thear - Faculdade Católica de SJC
  42. São Tantas Vozes - Lya Gram
  43. Setor 27: Ameaça nuclear - Daniel Pedrosa
  44. Setor 27: O segredo do Imperador - Daniel Pedrosa
  45. Setor 27: O tesouro da ordem de Cristo - Daniel Pedrosa
  46. Sombras de Um Verão  -Sidney Sheldon
  47. Suicidas - Raphael Montes
  48. Sussurros da Meia-Noite - Daniel/Juliana/Leandro/Stefânia
  49. Tamanho não é documento - José Nelson de Souza
  50. Versos Cravados na Pele - Wally Wilde
  51. Zé Dirceu Memórias - Zé Dirceu
Como notou, esta coleção tem o que eu estimo, muitas obras literárias de escritores brasileiros, sobretudo, regionais. Alguns livros trazem a dedicatória do autor para minha pessoa e alguns destes autores, inclusive, já foram entrevistados por este insignificante (de novo) blogueirinho Joseense. Portanto, se mais vale um livro na mão do que dois na prateleira, armemo-nos de livros para livrarmo-nos do mal! 

Grande Abraço,

Eduardo Caetano





2/19/2021

Caixa branca da aviação

Se eu te perguntasse o que você fez nos últimos 20 anos, o que responderia? E se você me perguntasse por onde andei nos últimos 20 anos, eu responderia: passei os últimos 20 anos dentro da caixa branca da aviação. Existe a caixa preta do avião, a que todo mundo conhece, aquela que guarda todo o histórico dos voos e tem consigo, de certa maneira, o DNA do avião. Como diz Sérgio Vaz: como poeta posso ser engenheiro, como tal, tomei a liberdade de batizar de caixa branca da aviação, os prédios de alvenaria, os galpões da fábrica, os locais físicos onde eu e muitos colegas passamos grande parte de nossos dias, projetando, montando, trabalhando, criando, buscando soluções, enfim, fabricando aviões. Antes da pandemia eu pensava: enquanto o sol brilha lá fora, nós ficamos dentro da caixa branca fazedora de aviões.

Foi um processo um pouco árduo até eu consegui entrar na EMBRAER. Ao todo, fiz oito testes, entre eles, para áreas de processo, estamparia, recebimento, estágio e qualidade. Após o término do curso, técnico em mecânica na ETEP, eu ingressei na EEI (Escola de Engenharia Industrial) e na faculdade a grande maioria dos alunos já trabalhava na EMBRAER e muitos deles na área de projeto. Eles falavam do trabalho com brilho nos olhos e aquilo acendeu uma chama dentro de mim, comecei a querer aquilo para mim também, não como inveja deles, mas como capacidade de fazer algo grandioso. E deu certo. Um belo dia me chamaram para fazer um processo seletivo para área de projeto, quase não fui, afinal, se eu não tinha passado até ali, era naquele que não passaria. Mas como não tinha nada à perder, lá fui eu. Alguns dias depois me ligaram dizendo que a vaga era minha, topei na hora e deixei, na época, o estágio na Proshock System, uma empresa de suspensão de bicicleta.

Dia 19 de fevereiro de 2001. Lembro-me como se fosse hoje. Primeiro dia de trabalho na EMBRAER. Lembro da sensação, do frio na barriga, as pernas tremendo. A passagem pela portaria, o processo de integração, conhecer a área e o time com quem trabalharia. Fui compor o time de Projeto de Interiores do cockpit dos jatos comerciais da família EMBRAER 170/190 onde fiquei por, aproximadamente, cinco anos. Depois, trabalhei por 2 anos no programa do maior avião executivo já feito pela empresa, o Lineage 1000. Depois, trabalhei por dois anos e meio nos aviões executivos da família Legacy 600/650. Depois fui para minha primeira passagem, de três anos, no programa de defesa na aeronave KC-390, maior aeronave e maior desafio técnico já realizado pela Embraer, onde tive a oportunidade de mudar de Projeto de Interiores para Projeto de Sistemas Ambientais. Depois, trabalhei por, aproximadamente, seis anos no programa dos jatos comerciais da família E190/175E2. E faz um ano e meio que estou de volta ao programa de defesa no programa KC-390, onde tive a felicidade de retornar ao time de projeto de interiores. Está sendo uma boa jornada, costumo dizer que andei de lado na minha carreira e não para cima, mas tenho orgulho da minha trajetória profissional, pois as portas foram sendo abertas a medida que a capacidade técnica ia aumentando. E, o melhor de tudo, é que vou seguindo a minha intuição nesta trajetória aeronáutica.

Ingressei na empresa ocupando o cargo de projetista e, anos mais tarde, fui promovido a engenheiro de desenvolvimento de produto e, embora, seja uma carreira comum, ela se faz singular, pelo simples fato de ser minha. Não citarei nomes de pessoas importantes e significativas, positiva e negativamente, para não ser injusto. Assim como a morte e, mesmo tendo um sentimento enorme de gratidão e satisfação por esta trajetória, é certo que um dia irei parar de trabalhar na EMBRAER, não por maldade, mas pela lógica mesmo. Será, basicamente, por uma destas quatro razões: posso morrer a qualquer momento, posso me aposentar na empresa, posso ser demitido e posso pedir demissão. Parece irônico, mas tenho me preparado para isso, afinal, tudo é eterno enquanto dura.

Eu sou ali do jardim da  granja, da época que o estacionamento da EMBRAER era aberto e divido por uma rua púbica, andávamos ali de bicicletas aos domingos, não fazia ideia que este dia de trabalhar lá chegaria. Chegou e dentro da caixa branca da aviação existe um mundo de aprendizagem contínua, com DNA 100% brasileiro, pois começou com o sonho de voar de Alberto Santos Dumont, passou pelo sonho de fazer aviões do Engenheiro Ozires Silva e hoje faz parte da nossa realidade.

Neste meio tempo me formei em Engenharia Industrial Mecânica, cursei pós graduação em Design de Interiores, meu pai faleceu, eu casei, meus filhos nasceram, entrei para Academia Joseense de Letras, participei de bancas de TCC e criei o Pode Cornettah. Assim como uma relação de casamento, cada lado tem seus sonhos e sua vida, há momentos bons, há momentos ruins, há momentos ótimos e momentos péssimos. Vamos no tornando mais fortes a cada crise que passamos juntos. E nesta relação, tenho convicção que trabalhar comigo não é uma tarefa muito simples, sou uma cara ranzinza de manhã e mal humorado o resto do dia. Mas tenho, lá no fundo, o meu carisma. Aliás, está ai uma boa pergunta: o que de fato as pessoas pensam de mim?

Esta trajetória é favorável para entender qual a diferença entre os diferentes mercados da aviação. Na aviação comercial, o proprietário quer e precisa ganhar dinheiro com as passagens aéreas dos nossos aviões. Na aviação executiva, os proprietários utilizam nossos aviões para manter seu dinheiro em ascensão e no mercado de defesa, o proprietário usa o dinheiro para investir na segurança do seu território em prol de toda uma população. 

Já falei isso outras vezes, e sempre falo nas minha aulas de projeto, os momentos mais incríveis da aviação é quando presenciamos o roollout, que é a apresentação de uma aeronave para população e para imprensa. E, o momento mais incrível é, sem dúvida, o primeiro voo desta aeronave.

No mais, compor esta equipe comprometida e ocupar a caixa branca da aviação, durante esses 20 anos, são motivos de orgulho para mim, minha família, meus amigos e todos aqueles que acreditam no profissionalismo e no produto genuinamente brasileiros.

Grande Abraço,

Eduardo Caetano







2/18/2021

Como é possível... aceitar o outro?

"Uma das lembranças mais antigas que tenho sou eu soprando uma flor dente-de-leão para fazer um pedido. Eu tinha uns 3 anos e pedia a Deus para ser uma menininha. Por isso eu acredito Nele, não fosse por Ele eu não teria chegado aqui", disse Mayla, uma das irmãs gêmeas que passou pela cirurgia de readequação de sexo, ocorrida na última quarta-feira, 10 de fevereiro, no Hospital Santo Antônio, em Blumenau (SC). Obviamente que não conheço Mayla e Sofia (gêmeas e as mais jovens a passar por este tipo de cirurgia no país), nem suas histórias, suas trajetórias e suas crenças. Mas já me chama a atenção o fato de Mayla crer em Deus e não na religião que O representa.

E falando em religião (e readequação de sexo), este ano a Campanha da Fraternidade (CF), realizada pela Igreja Católica, trás o tema: “Fraternidade e Diálogo - compromisso de amor” com o lema: “Cristo é a nossa paz - do que era dividido, fez uma unidade” (Ef. 2.14). E este ano a CF é Ecumênica (CFE), fato que ocorre, em média, a cada 5 anos. Até aqui, tudo normal. 

O objetivo geral da CFE 2021 é:
  • Através do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, inspirados e inspiradas no amor de Cristo, convidar comunidades de fé e pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual.
E os objetivos específicos são:
  • Denunciar as violências contra pessoas, povos e a Criação, em especial, as que usam o nome de Jesus;
  • Encorajar a justiça para a restauração da dignidade das pessoas, para a superação de conflitos e para alcançar a reconciliação social;
  • Animar o engajamento em ações concretas de amor à pessoa próxima;
  • Promover a conversão para a cultura do amor em lugar da cultura do ódio;
  • Fortalecer e celebrar a convivência ecumênica e inter-religiosa.

Eis um breve histórico cronológico das Campanhas da Fraternidade Ecumênicas ocorridas até hoje:
  • 2000 – Tema “Dignidade humana e paz” e lema “Novo milênio sem exclusões”;
  • 2005 – Tema “Solidariedade e paz” e lema “Felizes os que promovem a paz”;
  • 2010 – Tema “Economia e Vida” e lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”;
  • 2016 – Tema “Casa Comum, nossa responsabilidade” (tratou do meio ambiente e saneamento básico) e lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”.
Mas, por que a ala conservadora da Igreja Católica tem se posicionado contra a CFE 2021?

Primeiro, porque a Comissão da CFE 2021 é formada por representantes das igrejas-membro do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), tendo como igreja observadora a Igreja Betesda de São Paulo e tem, como membro fraterno, o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular (Ceseep).

Em segundo lugar, porque o texto-base da CFE 2021 é de autoria do CONIC e não da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como é feito todos os anos. Se não é elaborado pela CNBB, isso implica na ausência, por exemplo, de citações sobre Nossa Senhora. Mas se a campanha é para ser fraterna, sem problemas.

E, em terceiro lugar, o texto base faz críticas ferrenhas a forma que o governo combateu (ou não) a pandemia do novo coronavírus e também trás uma defesa inédita à população LGBTQI+, além de sugerir que a arrecadação financeira do Domingos de Ramos seja toda revertida para esta população. Ao defender a população LGBTQI+, o texto-base cita, por exemplo, Marielle Franco. Marielle, presente. Maria, Mãe de Deus, ausente. Mas se o texto é de autoria da comissão CFE 2021, logo, Nossa Senhora não é fundamental mesmo. Temos que atentar para o seguinte: o texto-base é de autoria do CONIC, sim, mas o responsável- aprovador pela redação e publicação, foi a CNBB, portanto, aos olhos do Vaticano, está tudo certo. Se para o Santo Padre, o Papa Francisco, está bom assim, quem somos nós para acharmos ruim?

Buscando informações sobre o que clama a ala conservadora, deparei-me com pautas muito complicadas para minha limitada teologia que vai apenas à face de leigo cristão e bem longe de ser um estudioso. Temas como extrema esquerda, Teologia da Libertação, Leonardo Boff, são muito além do que tange a minha vã teologia. Ainda sim, vou cornetar, pois sou católico, acredito no catecismo e em toda a fé que baseia-se o catolicismo.

Antes, porém, o termo Conservador me remete à época em que eu fiz o curso técnico na ETEP, pois quando um aluno repetia de semestre, dizíamos que ele havia conservado, ou seja, ia fazer tudo de novo, repetir tudo de novo, atrasar, não evoluir, ia ficar estagnado, enfim, seria castigado.

Contudo, é lamentável justificar o texto-base como se governo atual fosse culpado por toda a injustiça citada, fazendo do altar de nossas igrejas palanques para discussão entre bolsonaristas e esquerdistas. É preciso separar o joio do trigo. É uma questão cultural, está nas nossas entranhas a não aceitação do outro. Temos, como seres humanos medíocres, o triste hábito de rejeitar ao invés de abraçar o próximo. O fato de não concordar com as escolhas dos outros não nos dá, em hipóteses alguma, o direito de desrespeitá-lo. E se fosse com você? E se fosse na sua família? A tentativa de nos colocar no lugar do outro é um exercício muito válido. Eu, embora, branco, héterossexual, classe média, de boa família, até hoje sofro bullying por ficar vermelho quando estou no centro das atenções, seja por nervosismo, vergonha, timidez ou importância. E falo com conhecimento de causa: não é legal ser motivo de chacota. Até eu aprender que isso acontece devido à uma defesa fisiológica do meu organismo, demorei muito para aprender a me posicionar e saber meu lugar de fala.

A música proposta pelo texto-base é bem conhecida, chamada Momento Novo. E se Deus chama a gente pra um momento novo, não seria esta a hora realmente oportuna para de transformar o que não dá mais? Porque sozinho, isolado, ninguém é capaz. Claro, não é possível crer que tudo é fácil, mas há muita força que produz a morte, gerando dor, tristeza e desolação. Sim, é mais que necessário unir o cordão. Vamos, todos, entrar nesta roda e caminhar juntos, como povo de Deus. Cada um, eu, você, o héterossexual, o homossexual, o transgênero, o rico, o pobre, o índio, o branco, o negro, é muito importante nesta roda ecumênica.

Ao se opor o que a CFE 2021 propõe, os ditos católicos conservadores elevam ao máximo o esquecimento do mandamento deixado por Jesus, amar o próximo como a ti mesmo, e ficam estagnados, repetem velhas ações e tradições que em nada se assemelham aos ensinamentos de Jesus. Claro que é importante contestar mas, não obstante, é primordial respeitar e buscar a compreender as decisões alheias.

Aliás e se Jesus voltasse hoje, agora, aqui no Brasil, quais doze apóstolos ele escolheria? 
O conservador católico? Não!
O pastor famoso da igreja protestante? Não!
Eu, branco, héterossexual, classe média, boa família? Não!
Onde Ele iria garimpar seus novos apóstolos?
No templo de Salomão, onde impera o dinheiro? Não!
Na Basílica Nacional de Aparecida, onde virou uma casa de comércio? Com certeza, não!

Desculpe-me pela notícia, mas seguindo a lógica que Ele mesmo cansou de ensinar, os escolhidos de hoje seriam o pobre, o favelado, o negro, o índio, o pai de família fracassado, o profissional desacreditado, o senador corrupto, o homessexual humilhado, o transgênero desrespeitado, a mulher assediada, o deficiente físico e o traidor. E sim, eles viriam de lugares inóspitos, simples, esquecidos, de difícil acesso, da rua, dos bares, das favelas, dos ônibus lotados, das aldeias, das ocupações, dos cárceres privados, das prisões. Não viriam das grandes igrejas ou dos templos gigantescos, afinal, nós somos a igreja de Cristo. 

Será o respeito o melhor caminho à seguir ou estamos prestes a presenciar uma nova ruptura na Igreja Católica?

Enfim, se você leu até aqui, obrigado por investir seu tempo precioso!

Então, deixe seu comentário, porque aqui, pode cornettah!

Ah, este assunto foi sugerido pelo Daniel Galioti (Balanga). Dê, você também, a sua sugestão!

E não esqueçam de acessar os links para que possam conhecer um pouco mais sobre a CFE 2021.

https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/02/12/gemeas-trans-cirurgia-inedita-mudanca-sexo.htm

https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2021/02/12/gemeas-de-19-anos-fazem-cirurgia-de-readequacao-de-sexo-em-hospital-de-sc-transicao-exige-acompanhamento-por-dois-anos-diz-especialista.ghtml

https://youtu.be/Uc8Slv0hvJU


Grande abraço,

Eduardo Caetano


2/11/2021

O Cara do Cartaz

Há no instagram um perfil chamado: @ocaradocartaz. Eu o sigo. É bem legal, um cara bem apessoado, cabelo arrumado, usando óculos escuros e segurando um cartaz de papelão com frases bem humoradas e bem verdadeiras, chego até me identificar com várias delas. Dou boas risadas com o contexto todo.

Houve, na semana passado, no Paraná, no Aeroporto de Cascavel, este cartaz erguido por este cara. Também sigo este sujeito no instagram para ficar por dentro do que ele anda fazendo. Aí ele fez esta bobagem, aliás, mais uma bobagem entre tantas. Não ri deste contexto. Minha surpresa foi ainda ter ficado surpreso com isso.

Penso eu: quando um líder de estado levanta um cartaz dizendo que a principal emissora de televisão do seu país é um LIXO, é porque realmente as coisas não vão muito bem. Mas este sujeito fez isto porque não concorda com aspectos jornalísticos da emissora, sente-se atacado, desmoralizado, caluniado. Coitado, chego a ficar com pena deste sujeito.

Tentarei ser breve.... Assim como quem não assiste Globo, você pode optar por não continuar esta leitura. E tudo bem! Cada um lê o que quiser.

Não entrarei no mérito desta queda de braço, até mesmo porque esta mesma emissora cooperou bastante para que um outro sujeito aí fosse preso e não fosse candidato a presidência. Não cabe a mim julgar os critérios das notícias que eles promovem. O que me cabe é investigar, buscar outras fontes, confrontar a informação, aí sim chegamos a certa descredibilidade jornalística da emissora. O fato é que realmente há algo errado, das duas partes. Mas ainda assim, o cartaz é impactante. 

Quando é declarado que: A empresa tal é um lixo, significa dizer que todas as pessoas, todos os produtos, todas as suas diretrizes são, por consequência, um lixo. Tenho amigos, colegas, parentes, conhecidos, cunhados que não assistem mais nada desta emissora. E tudo certo! Cada um com seu controle, literalmente. Não quer assistir, aperte o botão e mude de canal, simples assim. Agora, todos este que citei, assim como eu, crescemos assistindo os produtos gerados, novelas e afins, por esta emissora e não estou lembrado de nenhum caso em que alguém tenha se tornado mau elemento ou pessoas não idôneas por carregarem o peso de tudo que assistiram. 

Dizem, por exemplo, que as novelas estragam as famílias, que ensinam coisas erradas, que não prestam para nada. Aí optam por assistir séries em canais fechados. E de que adianta isso, se em até desenhos infantis existem os mocinhos, os bandidos, os heróis, vilões, as farsas, os golpes, as traições? É certo que desconhecem todo o trabalho de pesquisa, preparação e muito estudo que existem para fazer uma novela. É certo que também desconhecem toda a cadeia de produção e empregos que são necessários para fazer novelas, séries, minisséries e filmes. 

Mas voltemos aos jornais, para não chegarmos a outra coisa que desconhecem... a polêmica Lei Rouanet... 

Por baixo, para produzir um jornal são necessários: repórteres (óbvio), jornalistas, redatores, câmeras, técnicos, diretores, maquiadores... será que todos eles são um lixo? É isso mesmo? E se este sujeito, que na minha modesta opinião não serve nem para síndico do meu condomínio, erguesse um cartaz deste sobre uma renomada empresa brasileira de aviação? Será que todos os engenheiros, mecânicos, pilotos, técnicos, projetistas seriam um lixo? Por isso, há de se pensar um pouco sobre respeito, aos profissionais da saúde, da informação, da comunicação. É preciso respeito pelo outro e, o exemplo, vem sempre da liderança. Se o líder ergue um cartaz como este, logo, quem o segue acha isso lindo e esse papinho de respeito vai para o ralo.

As vezes me pergunto se este sujeito do cartaz do lixo não está atuando, fazendo este papel de maior sem noção da história. Pesquiso um pouco e concluo que não. Afinal atuar é uma arte e arte não é muito a sua arte. Artista é diferente de arteiro.

E se você leu até aqui, obrigado pela atenção!

Grande Abraço,

Eduardo Caetano