10/25/2022

O Afegão Médio

        “Eu amo a Jovem Pan”, diz a imagem publicada nas redes sociais por muitas pessoas nesta última semana. logo, quem a ama, aceita e concorda ser chamado de Afegão Médio por Emílio Surita, apresentador, comunicador e líder da trupe do Programa Pânico. Talvez o Afegão Médio não saiba o que seja uma trupe por não prestigiar apresentações de teatro e circo.

        A saber, a sugestão para eu escrever sobre a “Censura” da Jovem Pan veio da frase um tanto quanto irônica: “Gostaria de ver aqueles belos textos comentando sobre este assunto”. A beleza do texto, deste ou outro qualquer, está na forma da escrita de quem o faz e nos olhos de quem o lê. Pode haver beleza e poesia no texto sobre corrupção, assassinato, traição, genocídio e até fascismo.

        Primeira consideração: os vídeos que chegaram até mim referente às análises sobre a chamada “censura” eram, quase todos, da Globo News. Uai, o Afegão Médio não assiste Globo, mas ao falar da Jovem Pan não teve outra saída e este mesmo Afegão Médio gosta de assistir o seu futebol pelos canais de mesma Globo. Dado que a Globo tem exclusividade de transmissão para Copa do Mundo de Futebol, como farão para assistir o seu menino, Garoto Propaganda - Ney, cair em campo?  Por falar na Vênus Platinada, incomoda-me o fato do Afegão Médio médio gritar aos quatro ventos que a Globo é um Lixo. Ao falar isso, chama-se de lixo cada ator, diretor, operador de áudio e imagem, repórter, jornalista, editor, roteirista, estagiário, porteiro e qualquer outra pessoa que componha seu vasto quadro de funcionários. Logo, se eu consumo seu conteúdo, se eu consumo lixo, tornar-me-ei um lixo. Tornando-me lixo, logo, o que produzo é lixo, seja no setor aeronáutico, pastoral ou acadêmico. Será mesmo? Se eu consumo lixo e produzo coisas boas, e os fatos e os dados e as obras e os projetos comprovam isto, este que vos escreve passa por um processo de triagem, reciclagem e sustentabilidade. Não defendo a Globo ou qualquer outro canal da TV aberta, vide o fato de eu ser fã de Silvio Santos, defendo, tão somente, a boa educação e repudio o mau comportamento e a hipocrisia do Afegão Médio.

        Segunda consideração: o Afegão Médio consome os conteúdos gerados pela Jovem Pan, logo, aceitam e concordam com o a forma que os jornalistas do programa Pânico e Os Pingos no Is se comportam que, ao invés de enaltecer as benfeitorias de Bolsonaro, “descem a lenha” no Lula. Confesso que não tenho paciência de acompanhar qualquer um destes programas dada a falta de educação de seus apresentadores. Eles poderiam dar a mesma notícia, ou pelo menos tentar fazê-lo de outra forma, poderiam fazer propaganda pró Bolsonaro como veem fazendo, sem atacar seu opositor de forma chula. Eles não conseguem falar bem do Bolsonaro sem falar mal do Lula. E foi esta a razão do pedido do direito de resposta de Lula que veremos a seguir, conforme previsto na Lei das Eleições.

        Primeira argumentação: As TV’s e rádios existem e funcionam porque são concessões públicas. Fernando Anitelli disse durante uma entrevista à Antônio Abujamra no programa Provocações de 2014 que “O Jabá é a maneira com a qual as rádios, tradicionalmente, encontraram para poder veicular uma música muito mais vezes do que talvez ela deveria, do que talvez o povo gostaria de ouvir. Se gente parar para pensar que, rádio e TV, são concessões públicas, que deveriam trabalhar comunicação para o povo, inspirada no povo, isso inexiste. As rádios tem outra tradição. Pagou, tocou! O Jábá se transformou no grande mal porque ele censura a possibilidade de vários outros artistas”. O Jabá, no caso da Jovem Pan e da Brasil Paralelo, é o que Bolsonaro se propõem a pagar para que elas façam a sua respectiva propaganda eleitoral. E o Afegão Médio certamente desconhece o que é concessão pública e quem são Antônio Abujamra ou Fernando Anitelli.

        Segunda Argumentação: O que está acontecendo com a Jovem Pan é uma orientação da sua própria diretoria ao ser avisada pelo TSE sobre o cumprimento, e não uma cesura propriamente dita, da lei das Eleições – Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, que diz:

Art. 45. Encerrado o prazo para a realização das convenções no ano das eleições, é vedado             às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e em seu noticiário: 

III – veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato,             partido, coligação, a seus órgãos ou representantes;  

IV – dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação; 

Candidatos e partidos políticos podem ingressar com o pedido junto à Justiça Eleitoral. Para isso, deve ser apresentada não somente a propaganda eleitoral que eventualmente tenha ofendido, mas também a resposta que pretende se veicular no mesmo veículo de comunicação que divulgou a possível propaganda ofensiva. Em casos de uso de conteúdo inverídico na propaganda eleitoral, é necessário demonstrar que realizou a verificação prévia de elementos que permitam concluir pela fidedignidade da informação. Importante destacar que os direitos de resposta serão aplicados apenas em análise de casos concretos, nos termos da lei.

O descumprimento, ainda que parcial, da decisão que reconhecer o direito de resposta sujeitará a infratora ou o infrator ao pagamento de multa no valor de R$ 5.320,50 a R$ 15.961,50, podendo ser duplicada em caso de reiteração de conduta, sem prejuízo do disposto no artigo 347 do Código Eleitoral.



Agora, o Afegão Médio pode contestar as leis eleitorais do TSE? Sim! O Afegão Médio pode e deve contestar a lei que permitiu Lula sair da prisão e ser candidato? Claro que sim! Não obstante, o Afegão Médio deve estudar e compreender as leis, suas brechas, seu funcionamento e suas aplicações.

   Primeiro comentário: muitas pessoas cornetam que não devemos votar no candidato, mas, sim, no seu plano de governo. O Afegão Médio me corneta, sem parar, o tempo todo, que Lula é a favor da ideologia de gênero, aborto e legalização das drogas. Bom, eu vinha caminhando de forma discreta, ponderado, quietinho e até como incógnita para algumas pessoas, porém, precisei tomar “partido” após o fatídico 12 de outubro. E sabe o que me leva a votar no Lula? São os projetos voltados a cultura e a educação que, para mim, são programas primordiais para o desenvolvimento do nosso país. Fico chocado ao ver que o Afegão Médio não sabe, não quer e não consegue distinguir ideias, de ideais, de ideologias, de pensamentos.

Segundo comentário: Por me posicionar, politicamente, tornei-me Persona Non Grata no grupo de whatsapp da família e na roda de amigos. Afegão Médio, Persona Non Grata não significa que eu não seja agradecido, tá?! Pesquise e depois me conte, combinado? E, caso Lula seja eleito (e será) e eu esteja equivocado, caso igrejas sejam fechadas e viremos uma Venezuela, não terei problema algum em me retratar e pedir desculpas, seja daqui um, cinco, dez ou vinte anos. Agora, caso voltemos a ser respeitados internacionalmente e as coisas não deem tão errado quanto vocês estão esperando, ficarei esperando, deitado, o Afegão Médio se retratar.

Terceiro comentário: uma das argumentações dos católicos direcionadas à mim passa pela definição da Teologia da Libertação, que é “uma abordagem teológica cristã que enfatiza a libertação dos oprimidos. Em certos contextos, envolve análises socioeconômicas, com preocupação social com os pobres e a libertação política dos povos oprimidos”. Bom, dada minha crença versus meu comportamento e atuação dentro na igreja católica, posso dizer que caminho a passos largos para ter o mesmo futuro de Leonardo Boff: ser "deixado de lado". O que acalenta meu coração é o fato de eu não almejar funções como o de ministro extraordinário da comunhão ou diaconal por exemplo, uma vez que reconheço e aceito toda minha limitação e pequenez diante do próximo. Neste ponto, o Afegão Médio médio conseguiu confundir minha cabeça, ora, se a igreja não pode libertar os pobres e os oprimidos, teria Jesus se equivocado em seus ensinamentos? Talvez seja a hora mesmo de nos atentarmos mais à filosofia que à religião. Só acho!

Conclusão:

- Escrever é, para mim, algo mais prazeroso que tomar cerveja, acreditam? Cerveja gelada, em casa ou com no boteco com amigos, é bom demais, porém, cada texto escrito representa um novo projeto que eu realizo. Entende Afegão Médio? Para escrever, eu pesquiso, eu leio, eu reflito, eu falo sozinho e eu penso muito. O processo de criação do texto acontece no banheiro, na hora do trabalho, tomando cerveja, em qualquer lugar e em qualquer hora. Pela escrita consigo organizar e expor minhas ideias e meus pensamentos sobre os mais variados assuntos. Não se ofenda, Afegão Médio, eu compreendo sua compulsão pela visualização e compartilhamento imediato de vídeos curtos muito bem editados uma vez que eles servem para isto mesmo, para sua não-reflexão.

- Não sei se você notou, Afegão Médio, mas neste texto elenquei as considerações, argumentações, comentários e a conclusão, sabe por quê? Salvos dois, nos máximos três, bolsonaristas que já me enviam textos e áudios, muito bem elaborados, diga-se de passagem, de própria autoria como réplicas dos meus textos, eu fiz isso para desafiar e ajudar você também a escrever, com as suas palavras uma réplica para mim, de forma clara, EDUCADA e muito pessoal. Vou te dar mais uma dica: esqueça, por hora, a Jovem Pan, a Brasil Paralelo, a Globo, o youtube, pense em você, na sua família, na sua bolha e dê uma olhadinha lá para a base da pirâmide. Se você forçar um pouquinho, conseguirá sair na sua linha média de visão.

- Para ajudar você a construir seu texto, sugiro que leia um pouco sobre o movimento chamado Sebastianismo: “Em 4 de agosto de 1578, Sebastião I, de Portugal, morreu na batalha de Alcácer-Quibir. Assim nasceu o sebastianismo, um movimento que profetizava o retorno do monarca morto para conduzir a nação. O mito se arraigou no Nordeste brasileiro e adquiriu com os séculos diversas modulações”. Pesqueisar, ler e escrever farão você, Afegão Médio, ver o mundo de outra forma, tenho certeza!

Em tempo, agradeço ao Daniel Galiotti e Roberto Cabral pela sugestão do tema e aproveito para dizer que minha camiseta para votação de domingo já está reservada: “Onde sobre intolerância, falta inteligência”.

 

Foto: Camiseta Jovem Pan Censurado
Fonte: https://lista.mercadolivre.com.br/camiseta-radio-jovem-pan



Foto: Camiseta Teatro Mágico
Fonte: 
https://lojinhaoteatromagico.myshopify.com/products/camiseta-onde-sobra



Grande Abraço,

Eduardo Caetnao

3 comentários:

  1. Ainda bem que gostas de escrever, porque assim fica mais fácil te cobrar por mais reflexões como esta. A lucidez, a ponderação, o respeito se faz presente - ao mesmo tempo que a mensagem é forte e contundente sobre a falsa alegação de censura da emissora pelo TSE, e a incapacidade do eleitor acalorado do atual presidente (afegão médio) usar o raciocínio para fazer uma análise imparcial e honesta do caso. Abraço e até a próxima reflexão!

    ResponderExcluir
  2. Em tempos de pouca coerência e muita notícia falsa. É muito bom ler textos como este. Sigo com a mesma linha de raciocínio.

    ResponderExcluir
  3. Belo texto e só gostaria de ver o mesmo tratamento com as outras emissoras, ou elas não fazem a mesma coisa Que a jovem pan vem fazendo na sua opinião ? Como dizia minha vó que Deus a tenha fácil é bater no Zé ali da esquina (com todo respeito ao Zé), mais quero vê é bater no fortão da rua de baixo... Abraço

    ResponderExcluir